12 novembro, 2008

Ai Mouraria...

... da velha Rua da Palma,
onde eu um dia
deixei presa a minha alma,
por ter passado
mesmo ao meu lado
certo fadista
de cor morena,
boca pequena
e olhar troçista.

(...)

Ai, Mouraria
dos rouxinóis nos beirais,
dos vestidos cor-de rosa,
dos pregões tradicionais.
Ai, Mouraria
das procissões a passar,
da Severa em voz saudosa,
da guitarra a soluçar.

O dia foi ontem, o fadista podias ser tu. A nossa alma ficou presa à esplanada onde saboreámos uma imperial enquanto olhávamos a Mouraria: um bairro velho, degradado, com mais estrangeiros que portugueses e sem vestigios das afamadas casas de fado. O que restou do bairro cantado por Ámália, considerado um dos mais típicos de Lisboa? Dei comigo a pensar como seria bom que existissem euros para tudo ser recuperado, para aquelas fachadas a cair de podres pudessem renascer e voltar a mostrar o esplendor que (dizem os antigos) tinham outrora. Se isso acontecesse Paris teria concorrente à altura... mas não estamos em França.

Mas tal como lá, dei-te a mão e juntos percorremos as ruelas de calçada, subimos as escadinhas e fomos em busca do castelo. Depois descemos até ao miradouro e lá ficámos a ouvir os músicos que a troco de moedas animavam a tarde. Deixámos passar o electrico porque para sentir uma cidade é preciso pisar o seu chão. Já com os pés doridos honrámos São Martinho com castanhas e vinho até os pensamentos perderem o nexo, e amparados um num outro para não tropeçar na vida regressámos ao ponto de partida.

Adeus Mouraria! Podes estar velha mas foi bom conhecer-te. Um brinde á tua saúde!